“O futebol salvou minha vida”: a jornada de Allyne, da infância difícil à Copa do Mundo Sub-17
De uma infância cheia de desafios, a jogadora encontrou no futebol a força para transformar sua vida e hoje brilha vestindo a camisa da Seleção Brasileira.
Allyne em treino da Seleção Brasileira Feminina Sub-17 no Marrocos - Fabio Souza/CBF
Craque da base do Grêmio, aos 17 anos, Allyne vive um sonho que parecia distante da realidade em que cresceu. A jovem, natural de Cuiabá, no Mato Grosso, viu no futebol uma forma de mudar o futuro dela e o da família. Hoje, ela veste a camisa da Seleção Brasileira Sub-17 na disputa a Copa do Mundo da categoria, no Marrocos, carregando na bagagem uma história marcada por coragem e superação.
Criada no bairro Liberdade, na capital mato-grossense, Allyne foi a mais velha entre nove irmãos e assumiu responsabilidades de adulta ainda na infância. Em entrevista à CBF TV, ela conta que, sem os pais presentes — ambos dependentes químicos —, cresceu sob os cuidados da avó Dalvina, a quem ajudava no dia a dia enquanto cuidava dos irmãos mais novos.
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Surgiu o futebol, por acaso
O futebol entrou na vida de Allyne de forma inesperada. A convite de uma amiga, começou a treinar em uma escolinha do bairro vizinho.
“Eu tinha uma melhor amiga e ela tinha vontade de jogar bola. O pai dela apoiava. Um dia ele me viu brincando com ela e perguntou se eu queria ir na escolinha. Ele levava a gente a noite pra treinar num bairro do lado do meu. Fiquei naquela escolinha por uns dois anos. Fiquei até os treze. Até que um dia o professor me pediu para jogar um jogo contra um time feminino de Cuiabá, que se chamava Ação. Minha avó não queria me deixar ir porque eu teria que ir num projeto social que nós participávamos. Mas ele insistiu muito e minha avó deixou ir. Joguei o amistoso contra esse time, e o treinador do time me convidou para treinar com o time”, disse, em um dos trechos da entrevista.
Allyne, ao centro, durante hino nacional brasileiro na partida contra Marrocos – Fabio Souza/CBF
Ali, o talento chamou atenção de professores e técnicos. Aos 13 anos, surgiu outra grande oportunidade uma semana depois de começar a treinar com o time: fazer uma peneira no Grêmio.
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“Tive que convencer meus tios a pagar tudo, porque era tudo por nossa conta. Pousada e tudo mais. Precisei criar coragem para sair de casa porque queria cuidar de todos. Demorou para eu conseguir convencer a minha avó para deixar eu ir. Tive também que convencer os meus tios. Por isso levou tempo para poder assinar tudo. Fui fazer o teste dia 8 de agosto de 2022 e passei. Minha mudança para Porto Alegre para morar foi no dia 5 de setembro de 2022”, contou à CBF TV.
Seleção Brasileira Sub-17
A adaptação foi desafiadora, mas o talento logo se confirmou. Forte fisicamente e confiante, Allyne se destacou em meio a atletas mais experientes e, em 2024, foi convocada pela primeira vez para a Seleção Brasileira Sub-17. O chamado marcou o início de uma nova etapa — e a concretização de um sonho que parecia inalcançável.
Hoje, ao disputar o Mundial da categoria, Allyne reflete sobre a própria trajetória com gratidão e maturidade. Para ela, o futebol não é apenas um esporte, mas uma razão para acreditar em um futuro diferente.
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“Eu falo muito que o futebol salvou a minha vida porque como minha infância não das melhores, sendo a mais velha de três irmãos, morando numa casa não muito confortável, além de ter tido depressão. Então eu acho que o futebol salvou a minha vida. Se eu não tivesse insistido no futebol, eu acho que eu não estaria aqui, porque o futebol é o que me trazia alegria. Então pra mim o significado de estar aqui no Mundial é saber que eu não desisti da minha vida”, disse.
Allyne comemora gol marcado contra Marrocos na Copa do Mundo Sub-17 – Fabio Souza/CBF
Allyne em campo na Copa
No Mundial Sub-17, Allyne marcou um dos gols da vitória brasileira por 3 a 0 na estreia contra Marrocos. Ela também esteve em campo no empate com a Costa Rica, em 1 a 1.
Ela agora se prepara junto com o time brasileiro para a partida decisiva desta sexta-feira (24). O Brasil encara a Itália, às 16h, no último jogo da fase de grupos da Copa do Mundo Sub-17. O empate classifica o Brasil de forma direta para as oitavas de final do Mundial.