O assédio e a discriminação continuam presentes no Futebol Feminino, mesmo diante do crescimento de público e audiência. O cenário fora dos gramados expõe uma dura realidade, segundo o mais recente relatório do Women in Football (WIF).
Discriminação ainda é rotina
Os avanços no campo, com recordes de público e contratos históricos, contrastam com dificuldades nos bastidores.
A pesquisa revela que 78% das mulheres relataram já terem sofrido discriminação de gênero no ambiente de trabalho e assédio. Em mais da metade dos casos, nenhuma providência foi tomada após denúncias.
Piadas e comentários sexistas fazem parte da rotina para 63,5% das profissionais, e 34% sequer denunciam abusos pelo temor de represálias ou descrédito institucional.

Grupos minorizados: impacto ainda maior
O desafio se intensifica para mulheres negras, pardas e de outros grupos minorizados, que representam 12% da amostra. Dentre elas, 75,6% veem o viés inconsciente como obstáculo direto, enquanto só 10% sentem que seu trabalho é respeitado e celebrado.
Apenas 29% acreditam que o futebol oferece oportunidades reais de crescimento para quem pertence a uma minoria étnica, evidenciando como as barreiras de raça e gênero se sobrepõem.

Abuso on-line: ambiente tóxico e impune
O cenário digital também é tóxico: 76% das mulheres relataram crescimento, ou pelo menos estabilidade, no volume de ataques on-line — dado que chega a 81% entre minorias étnicas.
O caso recente da defensora Jess Carter durante a Euro 2025, alvo de racismo após uma partida, expôs a dificuldade de conciliar visibilidade com segurança emocional.
Embora a federação inglesa tenha tomado medidas rápidas no caso específico, a pesquisa revela que, no geral, mais da metade das denúncias segue sem resposta das instituições.
Resiliência
Mais de 56% das mulheres entrevistadas que denunciaram discriminação de gênero afirmam não terem recebido qualquer resposta efetiva dos órgãos responsáveis. Muitas preferem o silêncio por medo de retaliação ou do impacto negativo em suas carreiras.
Mesmo assim, a resiliência e a determinação aparecem como fatores fundamentais para que continuem atuando no futebol — 67% e 63% das respondentes, respectivamente, citam essas características como essenciais para resistir aos desafios diários.

Esperança com ressalvas
Apesar das estatísticas alarmantes, 77% das mulheres seguem otimistas quanto ao futuro na indústria, ainda que o número venha diminuindo ao longo dos anos. Entre as minorias étnicas, o otimismo cai para 29%.
Para a presidente da WIF, Ebru Köksal, reconhecer as desigualdades interseccionais é ponto de partida para qualquer transformação.
“As barreiras são ainda maiores quando o gênero se cruza com outras identidades sub-representadas. Precisamos de soluções informadas pela interseccionalidade para transformar a evidência em ação concreta e duradoura”, disse.
