O Brasil é sempre lembrado como “o país do futebol”. Foram cinco títulos mundiais no masculino. Ao longo das décadas, os ídolos foram sendo reconhecidos e reverenciados em todo o planeta. Mas, por muito tempo, as mulheres ficaram longe desse cenário.
Se hoje Marta e Formiga são inspirações, é preciso lembrar que o caminho até aqui foi marcado por barreiras, preconceito e até leis que proibiram as mulheres de praticar o esporte.
O Futebol Feminino teve início no final do século 19, na Inglaterra, quando surgiram as primeiras equipes. As British Ladies Football Team, lideradas por Lady Florence Dixie, abriram as portas para que outras atletas seguissem em frente, mesmo em meio a críticas e até perseguições.
Já no Brasil, a história demorou um pouco mais para ser escrita, mas sempre carregou a mesma coragem e determinação: jogar futebol.
Anos de proibição
No início do século 20, jogadoras já atraíam grandes públicos, como o caso da inglesa Lily Parr, que conseguiu reunir mais de 50 mil pessoas em uma partida em 1920. O sucesso, no entanto, foi interrompido pela Associação Inglesa de Futebol, que em 1921 proibiu as mulheres de jogarem oficialmente.
Essa iniciativa atravessou pontes e chegou ao território brasileiro. Mas em 1941, durante o governo Vargas, foi decretado que mulheres não poderiam praticar esportes considerados “inadequados” para o corpo feminino — e o futebol estava na lista. Mesmo assim, times surgiam de forma independente e até escondidos, como o Araguari Atlético Clube, de Minas Gerais, que em 1958 chegou a lotar estádios antes de ser forçado a encerrar as atividades.
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A proibição caiu oficialmente apenas em 1979, mas foi em 1983 que o Futebol Feminino passou a ser regulamentado no país, abrindo caminho para a formação de equipes e competições.
1ª conquista de muitas
Enquanto isso, no cenário internacional, o movimento também avançava. A primeira Copa do Mundo feminina reconhecida pela FIFA aconteceu em 1991, na China, e foi vencida pelos Estados Unidos. A Seleção Brasileira participou, mas caiu ainda na fase de grupos. Pouco depois, em 1996, o Futebol Feminino entrou no programa olímpico, novamente com título para as norte-americanas.
No Brasil, o fortalecimento do calendário demorou. Só em 2013 nasceu o Campeonato Brasileiro Feminino, que deu mais visibilidade para jogadoras e clubes. Em 2019, veio outra medida importante: a Conmebol determinou que clubes sem equipe feminina não poderiam disputar a Libertadores masculina. A mudança fez crescer o número de times femininos no continente.
Novos passos e nomes de referência
Aos poucos, a luta pela modalidade por fim começou a trazer resultados também fora de campo. Em 2023, o governo federal brasileiro decretou ponto facultativo em dias de jogos da Seleção Feminina na Copa do Mundo.
Essa trajetória é feita de pioneiras e referências, já que Nettie Honeyball, capitã das British Ladies, marcou o início. Lily Parr, com mais de mil gols, mostrou a força do talento feminino. No Brasil, Formiga quebrou todos os recordes de longevidade, disputando sete Copas do Mundo e sete Olimpíadas.
E a Marta? Bom, ela é considerada por muitos a maior jogadora da história, com seis prêmios de melhor do mundo e o posto de maior artilheira das seleções brasileiras.
De proibições e preconceitos até o reconhecimento em grandes torneios, o Futebol Feminino segue conquistando espaço. E se a história até aqui foi escrita com resistência, o futuro promete ainda mais vitórias dentro e fora de campo.