O Futebol Feminino do Japão já viveu dias de enorme prestígio. O país venceu a Copa do Mundo Feminina da FIFA em 2011, contra os Estados Unidos, potência na modalidade.
Além disso, foi vice-campeão em 2015 e medalhista de prata nas Olimpíadas de Londres 2012. O sucesso internacional impulsionou o crescimento da modalidade no país, com aumento no número de meninas jogando futebol e maior interesse da mídia e do público.
No entanto, nos últimos anos, o Futebol Feminino no Japão tem enfrentado uma queda de visibilidade e engajamento.
A criação da WE League (Women Empowerment League), em setembro de 2021, foi uma das principais apostas para fortalecer o esporte. Ela é a primeira divisão profissional, com um modelo mais estruturado que visa o avanço da igualdade de gênero dentro dos clubes. Assim, a liga exige que pelo menos 15 jogadoras por equipe tenham contrato profissional, com salário mínimo de 2,7 milhões de ienes por ano (aproximadamente R$ 128 mil). Já para contratos de nível mais alto (tipo A), o valor mínimo é de 4,6 milhões de ienes anuais (cerca de R$ 219 mil).
Mais regras da WE League
Além disso, a liga estabelece regras para promover a presença feminina fora das quatro linhas: pelo menos metade da equipe administrativa de cada clube deve ser composta por mulheres, e ao menos uma mulher precisa integrar a diretoria.
Apesar disso, os resultados ainda não foram os esperados. Na temporada 2022/23, a média de público da WE League foi de apenas 1.401 pessoas por jogo, bem abaixo da meta inicial de 5 mil torcedores.
Os times disputam o campeonato no formato de pontos corridos, com jogos de ida e volta. Nos primeiros anos, não há rebaixamento. Um diferencial da WE League é que, ao contrário da J.League (liga masculina), que segue o calendário anual, ela segue o modelo europeu, com partidas de setembro a maio.
História longa, profissionalização recente
O futebol feminino no Japão tem raízes antigas. Há registros de mulheres jogando desde o início do século 20, mas a prática só começou a ganhar organização na década de 1960. A Associação Japonesa de Futebol (JFA) reconheceu oficialmente as jogadoras em 1979 e formou a Seleção Feminina do Japão pela primeira vez em 1981.
Em 1989, nasceu a primeira liga nacional, inicialmente amadora, chamada L. League, que em 2004 passou a se chamar Nadeshiko League. Atualmente, ela funciona como segunda e terceira divisões do futebol feminino japonês, com mais de 20 equipes espalhadas pelo país.
Muitos desses clubes são vinculados a universidades, empresas e organizações locais, e ainda têm papel importante na formação de atletas.
Em contrapartida, na sociedade japonesa, o Futebol Feminino ainda é visto como um esporte menor. Por isso, muitas mulheres largam o esporte a partir do ensino médio, por causa da falta de times de futebol em suas escolas ou em seus bairros.
Entre os times mais tradicionais, estão o Nippon TV Tokyo Verdy Beleza, multicampeão e formador de talentos como Yui Hasegawa, e o Urawa Red Diamonds Ladies, bicampeão recente da WE League. O INAC Kobe Leonessa também se destaca, especialmente por ter reunido várias atletas que fizeram parte da seleção campeã mundial em 2011.
Seleção aposta em nova fase
A seleção japonesa, conhecida como Nadeshiko Japan, passa por um processo de renovação. Após anos de resultados abaixo das expectativas, como a eliminação precoce na Copa do Mundo de 2019 e a campanha fraca nos Jogos de Tóquio (2021), a equipe ganhou novo fôlego com a chegada do técnico dinamarquês Nils Nielsen, no fim de 2024.
Sob o comando dele, o Japão venceu a Copa SheBelieves de 2025, nos Estados Unidos. Foi a primeira vitória contra as americanas em tempo normal em mais de uma década.
Com uma média de idade de 24 anos, o grupo atual é um dos mais jovens entre as grandes seleções do mundo. Algumas promessas têm apenas 19 ou 20 anos. Além disso, a expectativa é que o time atinja seu auge na Copa do Mundo de 2027, disputada no Brasil.
Por que a seleção é conhecida como Nadeshiko?
Em 2004, a Federação Japonesa de Futebol realizou uma votação pública e escolheu o apelido “Nadeshiko Japan” para a seleção feminina. Cerca de 2.700 pessoas enviaram sugestões, impulsionadas pela empolgação com a boa campanha do time nas Olimpíadas de Atenas, quando jogadoras como Homare Sawa e Karina Maruyama ajudaram a equipe a chegar às quartas de final, e mais tarde se tornariam campeãs mundiais em 2011.
O nome faz referência ao termo “Yamato Nadeshiko”, usado historicamente para descrever o ideal da mulher japonesa: forte, resiliente, delicada e dedicada. Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo promoveu esse conceito como símbolo de uma mulher capaz de suportar a ausência do marido, enfrentar as dificuldades da guerra e, se necessário, lutar pelo país.
No futebol, o nome carrega um sentido de identidade e orgulho nacional. A seleção feminina é uma das mais vitoriosas do mundo, sendo a única a conquistar títulos em todas as categorias da FIFA: sub-17 (2014), sub-20 (2018) e principal (2011).