Setembro é o mês marcado pela campanha Setembro Amarelo, que tem como objetivo conscientizar sobre a prevenção ao suicídio e a valorização da vida. No Futebol Feminino brasileiro, o tema vem ganhando espaço. Isso acontece porque clubes, atletas e comissões técnicas entendem a importância de falar sobre saúde mental no esporte.
O exemplo do Botafogo e a voz das atletas
A atleta Kika Brandino compartilhou publicamente sua experiência com a depressão. Em entrevista exclusiva ao Campo Delas, a volante conta que suas crises começaram em 2023, durante o período em que ela atuou pelo São Paulo.
Depois, se transferiu para o Atlético-MG, onde permaneceu por cerca de 40 dias. No Galo, a atleta decidiu se afastar temporariamente para se ressignificar e buscar apoio médico e psicológico especializado. Após esse período de cuidado, voltou aos gramados com mais força e confiança. Atualmente, atua em grande nível pelo Botafogo.
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No atual clube, essa preocupação também está presente. O time tem promovido debates internos e ações que oferecem espaço de escuta para as jogadoras. A volante destacou a relevância desse cuidado dentro do elenco alvinegro:
“É muito importante termos esse espaço dentro do clube, porque nem sempre conseguimos falar sobre o que sentimos. Quando o Botafogo traz esse cuidado, isso nos dá segurança para seguir em frente”, afirma a atleta.
Kika reforça ainda que o Setembro Amarelo deve ser apenas um ponto de partida para um cuidado constante:
“O Setembro Amarelo é uma oportunidade para lembrarmos que nossa saúde mental também precisa de treino e cuidado. Mas o ideal é que essa atenção exista o ano inteiro.”
Quando perguntada em que momento ela sentiu que precisava de ajuda, Kika deu uma declaração forte e importante:
“Cheguei a um ponto em que a minha performance começou a ser afetada, e aquela rotina não fazia mais sentido. Percebi que não estava mais conseguindo lidar com a situação sozinha. Eram inúmeras crises ansiedade, tristeza, pensamentos ruins e desesperança. Foi um momento muito difícil, tentei mudar os ares, ambiente e pessoas, mas entendi que eu precisava pausar minha carreira e buscar ajuda.”
Saúde mental no esporte
A pressão por resultados, a cobrança por espaço em um cenário ainda desigual e os desafios da carreira tornam o cuidado psicológico essencial. Por isso, cada vez mais clubes têm buscado incluir profissionais da saúde mental em seus departamentos. Dessa forma, promovem palestras, rodas de conversa e abrem canais de escuta para as atletas.
O papel dos clubes no Setembro Amarelo
Vários times do futebol brasileiro vêm desenvolvendo iniciativas voltadas à campanha. O Corinthians, por exemplo, realizou uma ação em parceria com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina. Nesse contexto, as jogadoras do time feminino entraram em campo ao lado de representantes das entidades médicas, vestindo camisas alusivas ao Setembro Amarelo.
No Fluminense, as ações foram além. O departamento de Psicologia organizou palestras e oficinas no centro de treinamento, em Xerém. Ademais, promoveu atividades com atletas da base e do Futebol Feminino. Em algumas partidas do Campeonato Carioca, goleiras da equipe feminina jogaram com uniforme amarelo, reforçando o movimento.
No Coritiba, a atenção à saúde mental também é prioridade. O psicólogo do clube, Gustavo Fressato, comenta sobre a importância de incluir a psicologia em todas as categorias, inclusive no futebol feminino:
“Cuidar da mente faz parte do bom rendimento dentro e fora do campo”, afirma.
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Mais que uma campanha: uma pauta permanente
O Futebol Feminino, que ainda luta por espaço e reconhecimento, mostra que também pode ser protagonista em causas sociais relevantes. Assim, as ações dos clubes e o engajamento das jogadoras deixam claro que falar de saúde mental não deve se restringir a uma data no calendário.
A mensagem que ecoa nos gramados é simples, mas poderosa: pedir ajuda não é sinal de fraqueza. Pelo contrário, é um gesto de coragem que pode salvar vidas.
Se você ou alguém próximo está enfrentando dificuldades emocionais, lembre-se: pedir ajuda é um ato de coragem. Existem canais especializados disponíveis 24 horas por dia, que oferecem apoio gratuito e sigiloso:
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CVV – Centro de Valorização da Vida
Telefone: 188 | www.cvv.org.br ou site do Setembro Amarelo -
SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
Telefone: 192 -
Disque Saúde Mental (Ministério da Saúde)
Telefone: 136
Não espere estar sozinho para procurar apoio. Falar sobre o que sente salva vidas. A saúde mental é tão importante quanto qualquer treinamento ou partida.