Na década de 1980, quando o Futebol Feminino ainda ensaiava seus primeiros passos no Brasil, um time nascido em Copacabana, no Rio de Janeiro, ousou sonhar mais alto. O Esporte Clube Radar transformou areia em palco, gramados em vitrine e fez história em um período em que, para as mulheres, jogar bola ainda era quase um ato de resistência. Foram sete conquistas da Taça Brasil e uma geração de craques que ajudaram a escrever as primeiras páginas da modalidade no país.
A ousadia de nascer contra a maré
Poucos anos antes, as mulheres sequer podiam jogar futebol legalmente. A modalidade foi proibida no Brasil até 1979, e a revogação da lei não apagou o preconceito nem trouxe, de imediato, estrutura ou apoio. Foi nesse vazio que nasceu o Radar, em 1981, no coração de Copacabana. Fundado pelo advogado Eurico Lira, que investiu recursos próprios para manter o time, o clube começou no futebol de areia e logo migrou para os gramados, tornando-se a tradução em campo de uma liberdade recém conquistada.
Os anos dourados
Entre 1983 e 1988, o Radar reinou absoluto na Taça Brasil, primeira competição nacional do Futebol Feminino. Foram seis títulos consecutivos, sete no total, e números quase inacreditáveis: 71 jogos, 66 vitórias e apenas duas derrotas. Para muitas jogadoras, porém, cada conquista era também um lembrete das dificuldades. A rotina incluía treinos noturnos depois do trabalho, conciliação com estudos, família e uma cobrança constante para provar que o Futebol Feminino merecia existir.
Da Taça Brasil à Seleção
Foi do Radar que saiu praticamente toda a base da primeira Seleção Brasileira feminina, em 1988, enviada à China para disputar um torneio experimental da FIFA, embrião da futura Copa do Mundo. Jogadoras como Heleninha, Cláudia “Maradona”, Vera e Pelezinha vestiram a camisa do Brasil, mas voltaram sem apoio ou reconhecimento. Ainda assim, aquele momento consolidou o clube como referência nacional e internacional.
O fim e o legado
Com o passar dos anos, no entanto, a falta de patrocínio e o descaso institucional enfraqueceram o time. O Radar foi perdendo espaço ao longo da década de 1990 até encerrar suas atividades. Hoje, não existe mais em campo, mas permanece vivo na memória das pioneiras e nos registros históricos como símbolo de resistência e inspiração. Mais do que vitórias e taças, foi um farol em meio às sombras de um futebol que ainda não aceitava plenamente a presença feminina.