Stella, de 38 anos, tem o riso solto, duas graduações e a faixa de capitã do Red Bull Bragantino. O Portal Campo Delas conversou com exclusividade com a jogadora, que é um dos pilares do time de Bragança Paulista, e que personifica a realidade do universo do Futebol Feminino no Brasil.
Ainda jovem, a paulistana começou nas quadras de vôlei da escola pública que frequentava com os irmãos. Mas não demorou muito para chamar atenção do treinador de futsal: “O que você está fazendo nessa quadra? Dizia ele. Vem jogar com a gente”, contou a atleta sorrindo ao lembrar do início de tudo.
O dom para praticar esportes, no entanto, não foi suficiente para Stella seguir uma carreira linear como atleta profissional. Ela sempre soube da importância dos estudos e moldou sua trajetória intercalando o futebol e os livros. A oportunidade veio quando ela menos esperava. Porém, a jogadora precisou remar bastante para chegar ao lugar onde sempre sonhou estar.
Bem-vinda ao alto rendimento
No início dos anos 2000, ainda adolescente, Stella ganhou uma bolsa de estudos em uma escola particular para finalizar o Ensino Médio, em Osasco. Contudo, o talento dela chamou a atenção de alguns clubes do Estado. A primeira chance aconteceu em Salto-SP. Depois, em Jaguariúna-SP.
Educadora física e advogada
Em Jaguariúna, Stella jogava em troca de uma bolsa de estudos para cursar Educação Física. Ciente da importância que uma formação teria em sua vida, ela encarou a graduação, em meio a rotina de jogos e treinos, em busca de um diploma.
“Talvez eu tive essa visão da importância do estudo desde antigamente, porque a gente não tinha patrocínio, eu dependia do meu PAItrocínio e felizmente o meu pai e a minha mãe conseguiam me manter ali, me ajudar em alguns momentos. Mas o que a gente tinha em contrapartida eram as bolsas de estudo e eu falo com o coração cheio, que felizmente eu tinha essas bolsas de estudo, porque eu tive a oportunidade, através do esporte, de ter duas formações”, disse.
Em 2010, já formada em educação física, Stella decidiu parar com o futebol por falta de recursos mínimos que um atleta profissional deveria ter. Então, ela voltou para casa dos pais e passou a dar aula de coordenação motora em um colégio da capital paulista. Na sua rotina, o futebol não tinha mais espaço, segundo ela. Foi nesse período que Stella se interessou pelo direito ao ver o pai e a irmã estudando para se tornarem advogados.
Mas a paixão pelo esporte continuou viva. Enquanto estudava para ser advogada, ela começou a dar aulas de futsal. Contudo, a fama de craque da jogadora se espalhou na cidade. Até que o São Bernardo Futebol Clube a contratou. No clube do ABC, ela permaneceu até 2018 atuando como zagueira, embora, ainda conciliasse o campo com advocacia.
Oportunidade da vida
Com 31 anos, em 2019, trabalhando no escritório de advocacia com a sua família, um convite inesperado do Palmeiras Feminino chegou até a sua porta. Porém, Stella já estava estabelecida na capital paulista como advogada e, dessa vez, não conseguiria conciliar os dois empregos, já que o Palmeiras treinava em Vinhedo, na região de Campinas, todos os dias. O dilema mexeu com Stella.
“Mas aquela proposta mexeu muito comigo, porque o futebol é algo que eu amo muito. Eu me formei em Educação Física e em Direito, mas a primeira coisa, que eu mais amo, é o futebol e depois vem as minhas profissões, minhas outras profissões, na verdade, né? E aí eu sentei com o meu pai, com a minha mãe e com a minha irmã e falei, olha, tive uma proposta, só que eu vou ter que morar em Vinhedo e a gente tem os nossos compromissos aqui com o escritório e, simplesmente, eles viraram e falaram, vai, a gente sabe que é o que você mais gosta”, conta a capitã com olhos marejados.
Na época, Stella também tinha um canal no Youtube. Ela frequentava os jogos do campeonato feminino e fazia cobertura das partidas. Para ela, o tempo havia passado, por isso não imaginava que pudesse estar em campo novamente. Dizer sim para a proposta do Palmeiras foi desafiador. Mas a partir daquele momento, a menina sonhadora, estudiosa e apaixonada pelo futebol pode, enfim, se sentir completa.
Depois do Palmeiras, Stella jogou no Flamengo. Em 2023, desembarcou no Massa Bruta. Hoje, capitã da equipe, referência dentro e fora dos gramados, continua atuando como advogada nas horas vagas e só tem a agradecer à família pelo apoio para chegar até aqui, porque como ela mesmo diz, “se não fosse eles…”.