Quando o ADIFFEM surgiu, a ideia veio de maneira simples: dar à filha de 12 anos um lugar para jogar bola. O pai, Da Rocha Freddy, percebeu que, no início da pandemia, as categorias femininas na Venezuela praticamente haviam parado. Sem encontrar onde treinar, ele decidiu agir e fundou o clube em janeiro de 2021, com apenas 15 meninas.
O que parecia uma iniciativa familiar rapidamente tomou corpo: em cerca de cinco anos, o ADIFFEM tornou-se bicampeão nacional, conta com quase 80 atletas e conquistou vaga para a Copa Libertadores Feminina de 2025 — integrando o Grupo B ao lado de gigantes como Boca Juniors, Ferroviária e Alianza Lima.
O que é o ADIFFEM?
O ADIFFEM (Academia Integral de Fútbol Femenino) é um clube de futebol feminino venezuelano fundado em janeiro de 2021, sediado em Montalbán, Distrito Capital.
O clube é bicampeão da Liga FutveFem (2024 e 2025) e representou a Venezuela na Copa Libertadores Feminina.
Um projeto que ganhou escala
Em entrevista exclusiva ao Campo Delas, do Portal iG, Da Rocha fala sobre a história por trás do projeto, os desafios e a glória.
Segundo Freddy, “não venho do futebol profissional, mas cheguei a isso como pai”. A cofundadora, a ex-jogadora María Gisela Núñez, trouxe a parte técnica e ajudou a profissionalizar o trabalho.
Mesmo em um país com pouca tradição no futebol feminino, o ADIFFEM quebrou barreiras. A liga venezuelana ainda não conta com jogadoras estrangeiras profissionais, o que torna o feito ainda mais expressivo.
Na Libertadores Feminina de 2025, o ADIFFEM enfrentou adversários fortes. A expectativa é aprender com o nível continental e consolidar o clube como uma força real. Segundo levantamentos, esta foi sua segunda participação no torneio.
Para Freddy, os títulos são consequência.
“O mais importante”, diz ele, “é saber que mudamos a vida de quase 80 jogadoras que hoje têm oportunidades que antes não existiam.”
Atualmente, o ADIFFEM é bicampeão nacional, com conquistas em 2024 e 2025.
A história por trás da criação do ADIFFEM
Tudo começou com uma inquietação de pai. Freddy lembra que a filha fazia parte de uma equipe que começava a investir no futebol feminino e vivia o mesmo cenário que tantas meninas brasileiras e venezuelanas: jogava com meninos até certa idade, até que o avanço do futebol feminino começou a permitir espaços exclusivos — com treinos, escolinhas e competições só para elas.
Quando a pandemia chegou, tudo isso parou. Os meninos voltaram aos treinos, mas as meninas seguiram em casa, sozinhas, repetindo exercícios enviados pelos clubes.
Foi nesse momento que Da Rocha percebeu que precisava agir. “Como ela é goleira, sabia que só treinar com o treinador de goleiras não seria suficiente. Ela começou a convidar amigas, e aos poucos outras meninas foram se juntando”, relembra.
O que nasceu de forma improvisada, em poucos meses já reunia 16 jogadoras — disputando amistosos e torneios informais contra meninos, com bons resultados.
“Os pais diziam que aquilo não podia parar. Então decidimos continuar, mesmo sem grandes planos”, conta Freddy.
Do quintal de casa à academia de formação
O que era um projeto de pai e filha rapidamente ganhou proporções maiores. Em apenas dois meses, o grupo já reunia mais de 60 meninas. Freddy ampliou a comissão técnica e estruturou uma pequena academia que, mais tarde, se tornaria o ADIFFEM — a Academia Integral de Fútbol Femenino.

“Nunca foi com a intenção de criar um clube profissional. Eu só queria garantir um espaço para minha filha continuar treinando. Mas percebi que não tinha mais como voltar atrás.”
A realidade venezuelana, marcada por desigualdades e poucos incentivos, acabou moldando o propósito do projeto. Da Rocha entendeu que o futebol poderia ser um canal de transformação social.
“Muitas meninas vinham de ambientes críticos. O futebol dava a elas uma razão para sonhar e enxergar um futuro diferente”, explica.
A partir dali, o projeto se consolidou como um refúgio — e uma escola de valores — para adolescentes que viam no esporte uma oportunidade real de mudança.
Crescimento e reconhecimento
Com o crescimento do ADIFFEM, jogadoras mais experientes começaram a se aproximar. O grupo ganhou estrutura, organização e respeito.
“De repente, tínhamos um time profissional. Nossa estrutura virou quase uma pirâmide invertida: uma base enorme e um time principal que nasceu naturalmente”, lembra o fundador.
Essa solidez chamou a atenção da federação local e abriu caminho para que o clube fosse reconhecido oficialmente.
Apesar da ascensão, os desafios seguem imensos. Freddy aponta que o futebol feminino na Venezuela ainda não é visto como um negócio — carece de patrocínio, estrutura e visibilidade.
“Não há transmissões, não há incentivos fiscais, e o apoio da federação é quase inexistente. Sem retorno, os patrocinadores não aparecem”, critica.
Mesmo assim, o ADIFFEM segue resistindo e inspirando, formando não apenas atletas, mas também pessoas.
“Nosso maior legado é ver meninas com o ADN ADIFFEM jogando na Espanha, estudando com bolsas nos Estados Unidos e levando nossa história para o mundo.”
Um legado que ultrapassa fronteiras
A filha de Freddy é uma das muitas que trilharam esse caminho. Após passar três anos no futebol espanhol, pelo Real Oviedo B, ela retornou à Venezuela e chegou a integrar o elenco do ADIFFEM em duas partidas antes de embarcar para uma nova etapa nos Estados Unidos, com bolsa esportiva.

“O que começou por ela já não é mais só por ela. Ela precisa mostrar todos os dias que está aqui por mérito próprio — e isso me orgulha ainda mais”, diz o pai.
O sucesso recente do clube, com presença em duas edições seguidas da Copa Libertadores Feminina, é visto como um marco histórico.
“Não somos apenas um clube. Somos uma academia integral que forma valores e talentos. O que nos move é ver o brilho nos olhos das meninas quando percebem que o futebol pode mudar suas vidas.”
