No Dia Mundial da Televisão, celebrado nesta sexta-feira (21), vale lembrar como a tela — e, mais recentemente, as plataformas digitais — ajudou a dar visibilidade ao futebol feminino. Desde as primeiras transmissões até os recordes de audiência, a trajetória da modalidade na TV revela avanços importantes, mas também deixa claras algumas lacunas históricas.
Curiosidades sobre transmissões do futebol feminino
1. As origens: invisibilidade e atraso nas transmissões
No Brasil, os primeiros jogos femininos televisionados surgiram apenas na década de 1990. As exibições aconteciam de forma esporádica e eram feitas pela TV Bandeirantes. No entanto, foi só nos Jogos Pan-Americanos de 2007 que as partidas passaram a ter maior regularidade na programação.
A modalidade ganhou ainda mais visibilidade após a ascensão de Marta, seis vezes eleita a melhor jogadora do mundo (2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018).

Leia mais: Marta concorre a prêmio da Fifa que leva o nome dela mesma
Esse atraso nas transmissões se explica por décadas de negligência e por antigas proibições. O futebol feminino enfrentou barreiras estruturais e culturais que limitaram sua presença nos meios de comunicação.
2. Primeiras transmissões organizadas internacionalmente
Um marco significativo surgiu fora do Brasil. Em 1990, o canal britânico Channel 4 exibiu “Women’s Soccer 1990”, uma série que mostrou jogos de futebol feminino e trouxe maior legitimidade à modalidade na TV. Entre os conteúdos exibidos, estavam partidas das eliminatórias para o Campeonato Europeu Feminino da UEFA de 1991, além das fases finais da Copa da Inglaterra Feminina de 1990. Na Grã-Bretanha, essa iniciativa ampliou de forma temporária, mas relevante, a cobertura da modalidade.
Já na Irlanda, em outubro de 2021, a Women’s National League (WNL) teve sua primeira partida transmitida pela televisão. O jogo entre Shelbourne FC e DLR Waves, realizado no Tolka Park, entrou para a história. Na ocasião, a atleta Fiona Donnelly afirmou:
“A transmissão dos jogos pela televisão dá ao campeonato a oportunidade de ser reconhecido, assim como todo o trabalho incansável que é realizado dentro e fora de campo.”
3. A explosão de audiência: quando o futebol feminino virou evento televisivo
A final do UEFA Euro Feminino de 2022, entre Inglaterra e Alemanha, marcou um dos maiores picos de público da história. A BBC One registrou 17,4 milhões de espectadores no Reino Unido, um recorde para partidas femininas. No estádio de Wembley, outras 87.192 pessoas assistiram ao jogo ao vivo.

Além disso, cerca de 5,9 milhões acompanharam o duelo via streaming no BBC iPlayer. Isso demonstra a força da combinação entre TV tradicional e plataformas digitais.
O jogo se tornou a partida feminina mais vista da história da seleção inglesa na TV. Também foi o programa mais assistido de 2022 no Reino Unido. Nos Estados Unidos, onde a ESPN transmitiu a final, a audiência média atingiu 971 mil telespectadores.
4. Recordes no Brasil e nas plataformas digitais
Na Copa do Mundo Feminina de 2023, a CazéTV bateu um recorde mundial. Durante o jogo entre Brasil e Panamá, o canal no YouTube alcançou 1 milhão de aparelhos conectados ao mesmo tempo.

No cenário nacional, a TV Brasil tem registrado números crescentes. Em uma das rodadas de 2025, o duelo entre Cruzeiro e Grêmio, pelo Brasileirão Feminino, ultrapassou 2 pontos de audiência no Distrito Federal, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Aproximadamente 194 mil domicílios sintonizaram a transmissão.
Além disso, ainda segundo a EBC, o alcance médio das partidas passou de 140 mil domicílios por jogo em 2025. A audiência da competição também cresceu 23,8% em comparação com 2024.
5. A importância simbólica da voz feminina nas transmissões
No Brasil, uma transmissão 100% feminina já é considerada um marco. Em 2018, a ESPN exibiu uma partida com Luciana Mariano na narração, Juliana Cabral nos comentários e Marília Galvão como repórter.
Em 2022, a Rede Globo também fez história. A emissora contou com Renata Silveira como a primeira narradora de futebol em canal aberto.
Análise
É impressionante como a televisão e o streaming têm impulsionado o futebol feminino. Os atrasos históricos mostram que a visibilidade não veio de forma simples. Ela foi conquistada por meio de persistência, luta e reivindicação por espaço.
Por isso, no Dia Mundial da Televisão, a comemoração deve vir acompanhada de reflexão. Ainda há muito a avançar para que a modalidade tenha presença plena na mídia, tanto nas transmissões quanto nas vozes que comandam a narração. Mais do que celebrar recordes, é essencial reconhecer as pioneiras que abriram caminho para que milhões de pessoas assistam ao futebol feminino na telinha hoje.
