Por muito tempo, os homens dominaram as arquibancadas dos estádios de futebol. A paixão pelo clube, o grito entoado e até o direito de ocupar o espaço da torcida organizada eram, culturalmente, associados ao gênero masculino. Mas o cenário mudou.
O Campo Delas conversou com integrantes da Família Feminina da Força Jovem, do Vasco da Gama, uma das principais torcidas do clube (confira o vídeo abaixo).
A presença de mulheres nas organizadas tem aumentado nos últimos anos, o que significa esperança para as futuras que desejam seguir por esse caminho.
“A gente precisa ser resistência. Quanto mais vierem, mais eles vão ver que nós somos a diferença. A gente está aqui e vai continuar até pra quem não gostar, pra quem não quer, pra quem é machista”, afirmou Nandy Lopes, quando questionada sobre o papel das mulheres na arquibancada.
“O psiquiatra [falou]: ah, porque você precisa de terapia. Isso aqui é a minha terapia. Isso aqui me faz viver, me faz sentir mais mulher, me faz sentir realizada porque eu sou Vasco e eu amo ser Vasco”, disse Viviane Ribas sobre a sensação de pertencer à Família Feminina.
O amor pelo clube fala mais alto
Mais do que torcedoras, elas são protagonistas dessa transformação. Mulheres que, ao lado de outros membros da torcida, enfrentam preconceitos, constroem espaços de acolhimento e mostram que o futebol também é delas. É o caso de Nandy e Neinha, integrantes veteranas da Força Jovem, que carregam nas memórias as dificuldades e os avanços ao longo dos anos.
“Amor não tem definição. E a gente faz por amor. A gente tá aqui não é porque: ‘ah, fomos obrigadas’. Não. A gente vem porque a gente quer, a gente vem porque a gente sente que tem que estar aqui. A gente vem porque a energia da torcida abastece a gente”, compartilhou Aline Kirton.

A força da presença feminina
Mesmo presentes, as mulheres ainda enfrentam barreiras nos espaços tradicionalmente masculinos. Ao ocupá-los, rompem limites, representam resistência e abrem caminhos para outras.
“Eu acho que a nossa insistência, persistência e resistência, está nos dando mais voz, mais espaço e abrindo os caminhos para gente, porque é só isso que a gente quer. A gente quer ser notada também, a gente também gosta de torcida organizada, a gente também gosta, ama o Vasco, ama o que a gente participa, o que a gente vive, porque eu digo que eu vivo o Vasco, eu não sou Vasco, eu vivo o Vasco, eu não sou Força Jovem, eu vivo a Força Jovem, eu vivo disso”, disse Nandy, sobre a participação feminina na torcida.
Na Força Jovem, elas organizam, lideram e inspiram. Além da festa nas arquibancadas, também promovem ações sociais, reforçando o papel transformador da torcida.
“É um trabalho de formiguinha, muito árduo, muito difícil. As pessoas que participam, que ajudam, não são pessoas que têm dinheiro, e tão ali ajudando com 10, 20 reais ou com a sua presença, porque só estar lá, com carinho, já é uma grande contribuição”, revelou Vivi Figueiredo, líder da torcida.
E completou: “A Força Jovem sempre fez uma festa linda nas arquibancadas, sempre teve ações sociais e desvalorizam todo nosso trabalho por uma minoria que existe dentro da torcida. Então, infelizmente, ainda existe esse preconceito e a gente luta aos poucos para acabar com isso”.

Saiba quem é Olivia Smith: contratação mais cara da história do Futebol Feminino
A história da Copa do Brasil Feminina até 2025; Veja campeões
A torcida organizada em ações sociais
Ao se envolverem no universo das torcidas organizadas, além de fortalecerem a torcida, as mulheres contribuem para transformar vidas e mostrar que o futebol e a paixão pelo time também podem ser sinônimos de cuidado, empatia e compromisso social.
“Foi muita luta, porque a gente teve muita porta fechada. Eu sei, porque eu fui em muitas instituições para oferecer ajuda, e por a gente dizer que era de torcida organizada, a porta era fechada mesmo a gente querendo ajudar. Existe essa imagem negativa que passam da gente, mas somos uma família, a gente é uma união, é gente como qualquer outra disposta a ajudar e a fazer, não só por nós, mas também pelo próximo. Eu sou apaixonada por tudo que a gente faz aqui dentro”, contou Aline, sobre a paixão que a Família Feminina compartilha ao se envolver em um projeto.
E a Força Jovem do Vasco não está sozinha nessa caminhada. Cada vez mais torcidas organizadas femininas e coletivos de mulheres dentro dos clubes vêm ganhando visibilidade e abrindo caminhos para que o futebol seja, de fato, para todos.

Confira o vídeo:
